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O tarifaço de Trump e a oportunidade de renovação política

Atualizado: 27 de jul.

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Lula pode embaralhar as cartas do jogo para construir a continuidade de seu governo com nomes da Frente Democrática que o elegeu

Por Adriano Floriani


O tarifaço de Donald Trump está sendo uma oportunidade de ouro para o Governo Lula reencontrar seu norte na comunicação. Para o presidente brasileiro, é também uma chance de embaralhar as cartas do jogo político e construir sua sucessão dentro da Frente Democrática que o elegeu. E aqui está o grande lance: ao abençoar outros nomes de fora do PT, Lula poderia fazer uma jogada de mestre. Afinal, o custo político para a centro-esquerda, seu partido e para sua própria biografia seria altíssimo, caso conquiste um quarto mandato ou, pior ainda, se isso resultar em uma derrota, seja pelo desgaste natural de sua imagem ou pelo cansaço do eleitor, em busca de alternativas aos nomes que polarizam as disputas dos últimos anos.


A decisão de Lula sobre quem escalar agora para negociar com o setor produtivo e com os Estados Unidos é crucial. Desarquivar seu vice Geraldo Alckmin, energizando o PSB de João Campos, ou dar mais protagonismo para Simone Tebet e o MDB aguerrido de Renan Filho e dos irmãos Barbalho, pode ser a chave para assegurar a continuidade e o legado do seu governo. Essa estratégia não só sinalizaria uma abertura para novos diálogos e alianças, mas também seria essencial para navegar num cenário político conturbado e dividido como o nosso.


Para fazer sucessor/a, Lula precisa de uma candidatura que já tenha algum capital eleitoral, capaz de agregar polos antagônicos e com ares de novidade, ainda que seja uma velha novidade na forma de uma figura conhecida, mas com rejeição menor, como Alckmin. O que não pode acontecer agora é Lula se tornar "mais do mesmo" ao insistir em si mesmo.


Ainda é cedo, mas nada indica que a próxima eleição tenha um caráter plebiscitário como teve a de 2022. Há uma demanda por renovação, mas acredito que sem espaço para aventureiros e outsiders. O/a eleitor/a está cansado/a e deve optar por candidaturas minimamente coerentes e discursos mais equilibrados; por ideias frescas que tenham viabilidade e concretamente possam fazer a diferença na vida das pessoas.


A habilidade de Lula em articular novas lideranças, portanto, será fundamental e decisiva neste momento de desvarios de Trump, e seus aliados tupiniquins, contra o Brasil. O tempo é curto. O timing para saber a hora de descer do umbuzeiro, como ensinou Getúlio Vargas, não deixa de ser uma arte. A questão passa a ser, além do quando, como Lula vai descer e com quem. Em qualquer cenário, o presidente tem condições de remobilizar lideranças que se uniram a ele em 2022 para costurar, quem sabe, uma nova frente, com energia e compromisso renovados para seguir tocando as políticas e programas prioritários do seu governo, mas trazendo novas agendas mais contemporâneas.


Ao se distanciar dos desgastes que um quarto mandato acarretariam a ele, ao PT, à centro-esquerda e ao campo democrático, Lula figuraria como o mentor de uma construção que pode abrir caminhos para uma nova geração de líderes. Essa transição pode ser vista como um ato de coragem e visão política, permitindo que ele mantenha sua relevância, enquanto refunda o PT e abre espaço para rostos novos no partido, para que possam, com a experiência e liderança do seu fundador, captar o espírito do tempo e continuar contribuindo com o país, sem perder o rumo e a relevância.


O tarifaço de Trump significa mais do que uma chantagem econômica combinada a ingerência externa e tentativa de obstrução da Justiça pela família Bolsonaro. Pode ser, na verdade, também um marco e uma oportunidade política de grande envergadura para o Governo Lula construir uma alternativa eleitoral e de poder que derrote a extrema direita, evitando o retrocesso e o aprofundamento das desigualdades no Brasil.


A história vai provar, com base em fatos, escolhas e decisões tomadas, quem foram os líderes verdadeiramente patriotas neste país. Ao remobilizar sua frente e escolher potenciais candidatos com a sabedoria e a sensibilidade que lhe são peculiares, Lula poderá garantir que, não apenas, seu legado sobreviva, mas o Brasil prospere num cenário político e econômico globalmente desafiador.


Getúlio Vargas acabou passando tempo demais no umbuzeiro, ao longo de sua trajetória política, esperando até o último momento para deliberar e agir politicamente. Um dia, quando se deu conta, já não havia mais chão para poder descer. Pressionado por adversários, acabou saltando no abismo, por ímpeto de heroísmo ou vaidade. Pretendia salvar o Brasil, definindo a história ao seu modo. Não conseguiu. O país sucumbiu por longas décadas até que um trabalhador pudesse assumir a presidência pela primeira vez, eleito quase 50 anos depois do ato trágico de Vargas, e governar para os mais pobres.


Lula, que nunca teve vocação para ditador, três vezes ungido pelo voto popular, já fez muito mais pelo Brasil. Onde estiver, encontrará sempre solo firme para pisar e uma multidão para acompanhá-lo. Que o presidente continue tendo inteligência, lucidez e saúde para testemunhar uma história com final mais feliz que a do antecessor gaúcho. Uma história que ele próprio vai continuar ajudando a construir enquanto ainda estiver por aqui. E que sob a sombra do seu umbuzeiro, possam nascer sucessores.



 
 
 

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